O IPCC - Eunice
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A ciência ataca a crise do clima

Um discurso histórico do climatologista James Hansen numa audiência pública no Senado dos Estados Unidos, em 23 de junho de 1988, foi decisivo para pôr a crise climática no radar da opinião pública. Na ocasião, Hansen, então diretor de estudos espaciais da Nasa, apresentou três principais conclusões: a Terra estava mais quente do que em qualquer outro período recente da histórico; esse aquecimento podia “com 99% de certeza” ser atribuído às atividades humanas que aumentaram a concentração de gases-estufa na atmosfera; e esse processo aumentaria a intensidade e a frequência de eventos extremos como ondas de calor, tempestades e secas.

Naquela mesma época, o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a OMM (Organização Meteorológica Mundial) já vinham discutindo o assunto. Dias depois do depoimento de Hansen, foi realizada em Toronto, no Canadá, a conferência Changing Atmosphere: Implications for Global Security, promovida pelo governo canadense com apoio das duas instituições. Tomadores de decisão, políticos, cientistas, ONGs, órgãos governamentais e integrantes do corpo da ONU aprovaram ali uma declaração afirmando a existência do aquecimento global causado por ação humana.

No mesmo ano, foi criado o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, uma iniciativa do Pnuma e da OMM. A Assembleia Geral do órgão de 6 de dezembro de 1988 estabeleceu a primeira tarefa: preparar um panorama sobre o “estado da arte” do conhecimento científico sobre as mudanças climáticas, o impacto social e econômico do fenômeno e apontar estratégias de enfrentamento. Sinalizou-se, também, a ideia de criar uma conferência global sobre o clima.

O IPCC reúne centenas de cientistas do mundo todo, trabalhando voluntariamente divididos em três grupos de trabalho: um avalia a base física da mudança do clima; um segundo, os impactos e as vulnerabilidades de sociedades e ecossistemas; o terceiro trata da chamada mitigação, ou como reduzir as emissões de gases que causam as alterações climáticas. Esses grupos se dedicam a compilar, a cada cinco ou seis anos, todo o conjunto de evidências disponíveis na literatura científica, e a produzir grandes relatórios de avaliação com tudo o que a humanidade sabe a respeito. Esses relatórios, de mais de mil páginas cada um, são acompanhados de um sumário para tomadores de decisão, na esperança de que os políticos, uma vez informados, possam agir.

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Ao todo, o IPCC já publicou seis grandes relatórios. O primeiro (chamado FAR), em 1990, forneceu a base científica para o estabelecimento da Convenção do Clima das Nações Unidas, em 1992. O segundo (SAR), em 1995, abalou o mundo ao detectar pela primeira vez “evidência discernível” do impacto humano no clima — levando à aceleração de campanhas desinformativas pela indústria fóssil. O quarto (AR4) deu ao IPCC o Prêmio Nobel da Paz de 2007.

O IPCC é frequentemente acusado de alarmismo. Na verdade é o contrário: o painel é extremamente conservador, por dois motivos. Primeiro, as conclusões dos sumários executivos precisam ser aprovadas palavra por palavra por representantes de mais de 190 governos, o que inclui países petroleiros como Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita. Segundo, os relatórios se baseiam em ciência consolidada e frequentemente descartam estudos novos e cenários extremos. Por exemplo, em 2007 já havia evidências de que o derretimento de mantos de gelo causaria uma elevação de 1 metro ou mais no nível do mar, mas o IPCC preferiu se ater a trabalhos que mostravam uma elevação máxima de metade disso. Os dados novos só seriam publicados no relatório seguinte, em 2013, quando já eram amplamente aceitos pela comunidade científica.

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